E se um dia os que plagiam a ignorância de tantos caíssem de costas paralisados sobre a terra revolta e injusta, cravada a lâminas de incompreensão de tudo o que alguns se rodeiam. O conhecimento pode ser ignorância. Conhecimento absoluto sobre o nosso umbigo, sobre o cheiro dos sovacos lacrimejantes e faces fortes contrastantes dos vizinhos. O conhecimento de quem julga reter em si e no seu redor próximo tudo quanto importa e é vital para viver bem e ser respeitado. O erro mortal de julgar a vida dos outros como algo finito, absorvendo livros completos das outras vidas com a visão, com a orelha afinada para o seu próprio interior.
Não haverá nunca guerra iniciada por quem respeita o outro, os outros. Proclamar a justiça de quem dispara a primeira bala, palavra, gesto, é um acto lúgubre que se dissolve aos sentidos de quem maneja a verdade, por mais inabsoluta que seja a verdade, por mais inalcançável que esta possa ser. Num dia as verdades caem por terra. Num dia tudo o que damos por certo muda. Talvez aqueles, poucos, que procuram várias verdades e não se contentam com apenas uma, se preparem melhor, outros com apenas uma tentativa acertam na suprema.
Não dar conta do insucesso do egoísmo é dar largas ao pesadelo do fracasso. A pocilga de ideias que muitos ostentam no topo dos pescoços tornar-se-á um dia inevitável transtorno cardíaco. Não que sejam mortais mas porque somos mortais. O livro da vida de cada um escreve-se todos os dias, a cada momento. Assim o faço agora mesmo ao escrever estas palavras. Nada é mais estúpido e incompetente que julgar que a democracia tudo avaliza. A democracia tudo permite, isso sim, mas por detrás do permitir está o bom senso que nos obriga a pensar antes de efectuar, agir.
Por este concelho fora há quem pense e aja e quem aja simplesmente. Há também quem aja e depois seja obrigado a pensar, mais tarde, já longínquo do acto. A selvajaria do peito destes últimos faz com se vejam rodeados de palco de ervas altas, leões e abutres à espreita. Para esses o meu profundo pesar.
Há quem viva bem consigo mesmo, no meio da selva. Até um qualquer dia em que a mão dos justos desce do inferno e soletra o nome dos criminosos. A vida é uma série de episódios. Há programas, séries, produtos televisivos que ninguém vê mas que continuam a ir para o ar. Há dois programas com audiências fraquíssimas, apenas tiveram picos de audiência. Esses programas estão suspensos. Reescreve-se o guião nos bastidores. Quando estiver pronto será mais justo e aí os injustos estarão na caixa mágica, como actores. As “Instituições Totais” de Goffman andam por aí, hoje como dantes. Talvez hoje com outros actores sociais mas o mesmo julgamento e, acima de tudo, o mesmo veredicto.
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